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Gestos de leitura de um sujeito entre-línguas: lugar de memória e empoderamento linguístico do educando surdo
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Metadados
Descrição
Bibliotecas, museus, arquivos... tais lugares de memória podem produzir um efeito de tudo conter sobre a língua e a história, de imponência sobre um sujeito que não estaria a altura de desvendá-los. Em se tratando de um educando surdo, tal imponência pode ser reforçada ainda por um dizer que o significa em um lugar de não saber a língua portuguesa escrita, uma língua imaginária e inalcançável para um sujeito ainda marcado pelo estigma da incapacidade. Seguindo em direção contrária, o propósito deste trabalho é mostrar outras vias da relação do sujeito surdo com a língua portuguesa escrita, através de um relato de um projeto de leitura para estudantes do 6º ano do ensino fundamental desenvolvido em parceria com a Biblioteca Parque Estadual no ano de 2016. Tal projeto tem como base a Análise de discurso (PÊCHEUX, ORLANDI), em especial, a pesquisa apresentada por Pêcheux em “Leitura e memória: projeto de pesquisa” (2011), que visava analisar o funcionamento discursivo das práticas de leitura e seus efeitos na memória em relação com a língua e o sujeito, isto é, a memória não no sentido cognitivista ou biológico, mas sim como algo constitutivo e materializado na língua. Considerando o educando surdo como um sujeito entre-línguas (CELADA, ZOPPI-FONTANA), um sujeito que transita, se significa e é significado em distintas línguas, buscou-se possibilitar uma fluência de gestos de leitura através da apropriação da biblioteca enquanto espaço de circulação da língua e da memória. Procurou-se mediar a leitura da biblioteca enquanto um lugar de memória atravessado por gestos de organização de arquivo (PÊCHEUX, 2009), isto é, os educandos foram levados a compreender o funcionamento da biblioteca enquanto espaço discursivo, ao serem motivados a conhecer o processo de catalogação dos livros, a analisar as palavras-chave para uma busca no sistema digital, ao averiguar a organização das obras em setores de saber, na disposição dos livros e revistas em prateleiras, dentre outros. No percorrer os corredores e sistemas da biblioteca, os educandos puderam chegar aos livros em si, conforme o próprio percurso de leitura. Em um caminho para um empoderamento linguístico do educando surdo, é preciso lidar com modos de apropriação da língua portuguesa escrita em relação com a língua de sinais, nas possibilidades e entraves do fluir entre-línguas. Assim, busca-se promover com este trabalho não apenas o acesso às bibliotecas e aos livros enquanto objetos de uma língua escrita inatingível, mas o exercício de um direito linguístico do educando surdo, que poderá estabelecer outras significâncias de si com as línguas.
ISSN
1518-2509
Periódico
Autor
Buscácio, Lívia; Instituto Nacional de Educação de Surdos
Data
3 de julho de 2019
Formato
Identificador
https://www.ines.gov.br/seer/index.php/forum-bilingue/article/view/482 | 10.20395/fb.v0i37.482
Idioma
Editor
Fonte
Revista Forum; n. 37 | 2525-6211 | 1518-2509 | 10.20395/fb.v0i37
Tipo
info:eu-repo/semantics/article | info:eu-repo/semantics/publishedVersion