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Narrativas do cotidiano entre surdos e ouvintes
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Metadados
Descrição
Este trabalho apresenta uma breve reflexão sobre nossa pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, e está em aberto: pode e deve ser alterado, inclusive com as contribuições e observações de debates em eventos como este. Estou psicóloga na DISOP desde 2013. No cotidiano do trabalho, encontro-me imersa em um campo tenso e delicado de relações entre surdos e ouvintes: enquanto aluna no curso de Libras ministrado por Surdos para ouvintes; nos atendimentos de mediação na DISOP para diminuir conflitos entre alunos surdos e famílias ouvintes; como servidora ouvinte nos momentos em que os profissionais ouvintes se sentem desvalorizados perante os profissionais Surdos ou quando os profissionais Surdos insistem em certas discussões relevantes para eles, que os ouvintes querem atropelar; ao pensar profissão junto com alunos surdos adultos e perceber que muitos sentem-se sozinhos nos seus empregos diante do fato em que a maioria das pessoas em seus locais de trabalho são ouvintes. Por este motivo, tomamos como tema central da pesquisa as relações entre surdos e ouvintes, e como elas são exercitadas no cotidiano. Algumas premissas a partir da vivência são: o que é e como lidar com a diferença; comunicação não é só saber falar a mesma língua (ainda que isso seja de extrema relevância), mas implica também em persistência e disponibilidade para se fazer entender e para entender o outro; na relação entre Surdos e ouvintes, a comunicação é um atravessamento importante mas não é a única questão. Algumas apostas metodológicas nos acompanham, em especial a objetividade feminista (HARAWAY, 1995) e o PesquisarCOM (MORAES, 2010). Pretendemos assim que pesquisa e pesquisadoras – considerando suas marcas, como por exemplo, ser ouvinte – possam se apresentar encarnadas e conectadas com o campo e os atores que o compõem. Estas apostas também nos levam a entender os atores do campo não como objetos de pesquisa, mas como sujeitos protagonistas de suas histórias, com expertises que colaborarão para os desfechos possíveis da pesquisa. A metodologia de pesquisa são narrativas do cotidiano. A história oficial, ao desprezar “os cacos” (GAGNEBIN, 2006), incorre no risco de tornar-se a única história, como por muitas vezes a história da surdez é narrada. Parece se manter no centro d“A” história da surdez a disputa pela língua, que opera ora como instrumento de dominação, ora enquanto vetor de empoderamento. A maneira como “A” história da surdez é contada, assumindo uma perspectiva de “história-tribunal” (ROCHA, 2010), apresenta lutas e vitórias, com “inimigos” estanques, encerrando na dicotomia oralismo x gestualismo uma série de nuances que perpassam o ser surdo, sua relação com o mundo e com os ouvintes. Ignora-se também, deste modo, que são discursos que não se encerram em dado momento histórico, para dar lugar a outros, e sim coexistem, produzindo forças, pensamentos e ações heterogêneas. Apostamos nas histórias únicas (CONTI, 2015), que colhemos com essas narrativas do cotidiano, para fazer proliferar outras maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo, produzindo uma visão do mundo diferente do que uma única história (ADICHIE, 2009), hegemônica, produz.
ISSN
1518-2509
Periódico
Autor
Moraes, Márcia; UFRJ | Silva, Lucila; INES
Data
3 de julho de 2019
Formato
Identificador
https://www.ines.gov.br/seer/index.php/forum-bilingue/article/view/492 | 10.20395/fb.v0i37.492
Idioma
Editor
Fonte
Revista Forum; n. 37 | 2525-6211 | 1518-2509 | 10.20395/fb.v0i37
Tipo
info:eu-repo/semantics/article | info:eu-repo/semantics/publishedVersion