Descrição
Os séculos IV e VI demarcam importantes transformações sociopolíticas e culturais na pars occidentalis: dentre outras, pode-se destacar a crescente capacidade de atuação dos bispos romanos nos assuntos eclesiásticos. Neste sentido, tradicionalmente a historiografia saudou o governo de Leão (440-461) como um dos precursores do “papado” medieval: não raro, seus escritos foram tidos como base sólida e coerente que, em certa medida, “anteciparia” e “inspiraria” os meios diplomáticos, jurídicos e administrativos de seus sucessores do período Gregoriano (ca. séculos XI-XIII). Contudo, nas últimas décadas, pesquisadores têm reavaliado tais suposições: em suma, trata-se de interpretações mais críticas e atentas aos desafios específicos com os quais Leão se defrontou. O presente artigo se vincula a esta tendência e, para isso, investiga seus cinco sermões de comemoração de sua elevação episcopal. Assim, à luz da teoria de Bourdieu e tomando a pregação como uma das expressões do crescente poder episcopal no período, examinamos a caracterização de tais celebrações e como esta se articula ao esforço pela definição do perfil do bispo-pregador romano.