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IMA-PANZO, João. Extensão universitária em Angola. Tendências, ações e projeções. Luanda: Mayamba, 2018. 171 p.
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Metadados
Descrição
O presente livro de João Ima-Panzo, docente universitário e pesquisador, traz para o debate público a dimensão de uma das “funções substantivas que ocorre com o ensino e a investigação científica na definição do conceito de universidade moderna” (p. 61), o tema da extensão universitária em Angola – tendências, ações e projeções. Esse desafio, além de colmatar um vazio de informação relacionada com a temática para o contexto angolano, ainda apresenta possíveis caminhos que podem ser trilhados tendo em conta a alteração desse cenário, o que nos permite constatar, à partida, que se trata de um campo de ação universitário em construção.Numa linguagem simples, que torna a obra acessível a um público heterogéneo, o autor propõe-se refletir em torno do conceito de extensão universitária, o surgimento, a sua posição na estrutura orgânica das Instituições de Ensino Superior (IES), a convivência com as outras áreas de ação das IES (ensino e pesquisa), o enquadramento à realidade angolana, a sua importância, bem como as inúmeras atividades que podem ser realizadas no seu âmbito de atuação, salientando a sua dimensão académica, científica e de formação humana. Para o efeito, o autor empreende uma análise dos principais documentos normativos que regulam o setor do ensino superior em Angola, com destaque para a Lei de Bases da Educação e Ensino (Lei 17/16, de 7 de outubro), as Normas Reguladoras do Subsistema de Ensino Superior (Decreto nº 90/09, de 15 de dezembro), o Estatuto Orgânico da Universidade Agostinho Neto (Decreto 229/11, de 19 de agosto) bem como das restantes sete universidades existentes no país[1].A obra está organizada em quatro capítulos, sendo que os dois primeiros são de enquadramento teórico e os dois últimos visam a sua operacionalização. O autor inicia o primeiro capítulo com uma resenha histórica, breve e sintetizada, sobre os caminhos da história da institucionalização da universidade (p. 23-35), onde somos informados que as universidades “são fruto da Idade Média na Europa” e que o “termo extensão resulta do alargamento das funções da universidade” (p. 27). Ainda neste primeiro capítulo, Ima-Panzo apresenta uma “breve contextualização histórica da universidade em Angola” (p. 29), desde a sua criação em 1962 como Estudos Gerais Universitários, dando ênfase ao período pós-independência até à atualidade, com a criação das regiões académicas.As diversas tendências do conceito de extensão (p. 37-60) fazem com que o autor defenda a ideia que se trata de um conceito amplo e abrangente, daí defini-lo como “cultura, cidadania, conteúdos, ensino, investigação científica, práticas, experiências, valores, difusão, inter-relação, comunidade, empresa, sociedade e transformação” (p. 38). Neste segundo capítulo o autor começa por enquadrar a origem e desenvolvimento da extensão universitária em diferentes partes do mundo, justificando assim os diferentes modelos de extensão que se foram desenvolvendo. E como exemplo apresenta, na segunda parte do capítulo, a extensão universitária no Brasil, onde identifica o impacto e prevalência de três modelos, nomeadamente: a) modelo das universidades populares europeias, b) modelo das IES dos Estados Unidos da América e c) modelo expresso pelo manifesto de Córdoba. Ima-Panzo analisa ainda a “política nacional de extensão universitária brasileira” (p. 51) enumerando os seus objetivos, as “linhas orientadoras em que se promove a elaboração e implementação das ações de extensão” (p. 56), as ações políticas levadas a cabo e que visam o seu fortalecimento, bem como o financiamento.Porém, o autor não justifica o porquê dessa opção pelo Brasil em detrimento de outros países lusófonos como Portugal, Moçambique ou Cabo Verde pois não encontramos qualquer relação com o caso angolano, objeto de estudo da obra. De igual modo, não identificamos nenhum acordo de cooperação nesse âmbito, e nem tão pouco sinais que aproximam os dois países nesse quesito. Uma reflexão mais atenta e profunda sobre o assunto levanta outras indagações como o fato de não percebermos o porquê da inspiração em cópias de modelos importados de outras latitudes, sem qualquer enquadramento à realidade angolana, em detrimento da criação de modelos próprios e das suas vivências. Fica aqui uma pista para futuras reflexões.Nas páginas seguintes (61-112) o autor apresenta os resultados da sua pesquisa sobre a extensão universitária em Angola (Capítulo III). Ima Panzo inicia o capítulo com a com a delimitação do seu estudo “abordar os principais acontecimentos normativos em que se fundamenta a extensão universitária nas IES públicas” (p. 61), não abarcando outras IES públicas (escolas superiores e institutos politécnicos) bem como público-privadas e privadas, empreendendo assim uma análise ao “conjunto de normas, leis, decretos-lei, decretos-executivos e outras específicas” (p. 62) que sustentam a atividade universitária em Angola.Pela análise dos referidos documentos normativos o autor constata que a utilização da expressão extensão universitária “assume um caráter marcadamente confuso, sem identidade terminológica na definição do conceito de universidade” (p. 69). Ima-Panzo destaca ainda a marginalidade institucional da extensão, o que faz com que a afetação de recursos humanos, físicos e infraestruturais não sejam definidas, a não progressão na carreira para os docentes envolvidos justifica a ausência de carga horária e vinculação curricular, o que faz com que esta se encontre numa situação “pouco favorável” (p. 71). No entanto, essas condicionantes, apesar de constituírem um entrave para o desenvolvimento das atividades, não desencorajam algumas IES mais destemidas, como foi o caso da Escola Superior Politécnica do Bengo (ESPB) e do Centro de Investigação Científica e Assessoria Jurídica (CICAJ) da Universidade Lueji A’Nkonde, na Lunda Norte.Por conta dessa situação, o autor apresenta, no quarto capítulo, alguns subsídios para a sua institucionalização (p. 113-163), tendo como base a sua experiência de trabalho em atividades de extensão e a revisão da literatura especializada sobre a temática. O autor propõe assim a criação de um quadro de Referências para a Extensão Universitária (QRExU) cuja estrutura comporta uma Política de Extensão Universitária, que corresponde a um “quadro jurídico-legal que suporte e legitime toda e qualquer ação de extensão universitária a ser desenvolvida no interior das IES” (p. 114), uma Política de Extensão Universitária das IES, que corresponde à “adoção da extensão universitária como função estruturante da vida académica” (p. 121), bem como o estabelecimento de níveis Comuns de Referência por tipologia, que visam salvaguardar a qualidade das ações de extensão.Este último capítulo é particularmente interessante na medida em que há uma proposta que visa a institucionalização da extensão, bem como os critérios que garantam o seu desenvolvimento uniforme a nível nacional. O que constitui um reconhecimento sobre a sua relevância enquanto área do conhecimento e a sua ligação às outras funções da universidade (ensino e pesquisa). Porém, a qualidade do ensino ministrado e a quase ausência da pesquisa nas IES angolanas, leva-nos a questionar a sua implementação num futuro próximo. Aliás, os próprios documentos normativos, recentes na sua maioria, são muito incipientes nesse sentido, condicionando, à partida, o seu desenvolvimento. Por outro lado, e como bem analisou o autor, o fraco enquadramento normativo, o não reconhecimento das atividades como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem, a ausência de vinculação da atividade docente, entre outras lacunas, colocam as atividades de extensão universitária numa posição marginal, como se de atividades de tempo livre se tratassem. Urge, pois, o seu reconhecimento a todos os níveis bem como a sua dignificação.A análise crítica em torno desses documentos é de aplaudir. No entanto, sentimos falta de uma análise mais complexa em relação ao conceito e importância da extensão universitária, tendo como suporte outros documentos científicos já produzidos em outras latitudes, seja a nível regional, continental ou internacional. Assim, uma pista para futura pesquisa e reflexão teórica será a expansão do foco de análise para as dinâmicas de extensão a nível das IES, focando nas conexões entre os cursos e a oferta académica de cada IES com a sociedade e as necessidades do mercado de trabalho. Numa época em que a crise, nas suas múltiplas dimensões, conquistou o terreno e parece ter-se enraizado e consolidado como palavra de ordem, servindo de desculpas para toda e qualquer (in)atividade das instituições no geral, o livro de Imã-Panzo constitui um contributo indispensável para acreditarmos que esta pode abrir caminhos desconhecidos.[1] De salientar que o autor também se socorre da análise do estatuto da carreira docente, entretanto revogado pelo Decreto Presidencial nº 191/18 de 8 de agosto (novo estatuto da carreira docente do ensino superior).
Periódico
Colaboradores
DADO AUSENTE NO PROVEDOR
Abrangência
DADO AUSENTE NO PROVEDOR
Autor
Liberato, Ermelinda
Data
16 de dezembro de 2020
Formato
Identificador
https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/16782 | 10.5585/eccos.n55.16782
Idioma
Direitos autorais
Copyright (c) 2020 EccoS – Revista Científica | https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0
Fonte
EccoS – Revista Científica; n. 55: Dossiê Avaliação da Aprendizagem; e16782 | 1983-9278 | 1517-1949
Assuntos
educação | formação | angola
Tipo
info:eu-repo/semantics/article | info:eu-repo/semantics/publishedVersion