Descrição
Este artigo tem o intuito de apresentar a variação lexical na fala de algumas comunidades quilombolas de microrregiões pernambucanas, localizadas entre o Agreste e o Sertão do Estado. Para tanto, usou-se o corpus coletado para a construção do primeiro atlas linguístico quilombola do Estado, nomeado de Atlas Linguístico Quilombola do Moxotó-Ipanema de Pernambuco (ALQUIMIPE) e, para o momento, foram usadas as respostas a perguntas que visavam a coleta de denominações para a canjica e o curau, dispostas nos campos semânticos alimentação e cozinha. A partir de um estudo histórico sobre a escravidão e os descendentes dos escravos de Pernambuco que habitam comunidades construídas em fuga, foi possível identificar as raízes africanas no Estado desde o século XVII, perpassando pela construção do Quilombo dos Palmares, de onde parte dos descendentes dos escravos que escaparam vivem hoje pelas serras e morros pernambucanos. Com o aporte acerca da Dialetologia e da Geolinguística, necessário à fundamentação teórico-metodológica para a criação de atlas, explicitaram-se os parâmetros para a construção do ALQUIMIPE, que culminou na construção de 31 cartas linguísticas, sendo 11 fonéticas e 20 léxicas. O destaque para as variantes de canjica permitiu identificar sete denominações, das quais parte delas se originam de idiomas africanos, como foi apresentado na análise etimológica, do mesmo modo que ocorreu com as variantes para curau, que teve seis denominações registrados nos inquéritos, o que levou a concluir que a cultura quilombola oriunda de etnias que a fundaram ainda está presente, inclusive na língua que falam.