Descrição
A prática do teatro na prisão levanta a ques- tão da participação de profissionais não profissionais em projetos artísticos. Este artigo é uma oportunidade para observar os vínculos entre questões éticas e estéticas, que estão no centro dos discursos sobre a participação, a partir do exemplo muito singular de produção artística nas prisões do coletivo independente de Berlim aufBruch. Para fazer isso, gostaria de voltar ao processo que experimentei várias vezes com o diretor Adrian Figueroa, durante a realização de projetos de teatro e cinema com prisioneiros nas prisões de Plötzensee e Tegel em Berlin. O trabalho é baseado em oficinas de redação e entrevistas com prisioneiros. Nessa oportunidade, descrevo as estratégias de distanciamento implementadas durante esses projetos, a maneira de desenvolver formas literárias próximas à autoficção, em que surge uma tensão entre a vida e a narrativa imaginária. Ao combinar uma abordagem teórica e prática, trata-se de transpor o obstáculo de evitar “expor” os prisioneiros e questionar, por um lado, a função social da arte que pode se afirmar como um espaço agonístico e, por outro lado, enfatizar os aspectos estéticos desses projetos que oscilam entre o espaço autêntico e simbólico. Nesta ocasião, podemos nos perguntar como os corpos encerrados em um lugar “absolutamente diferente” (Foucault) podem ser projetados em outro espaço.