Descrição
A eleição de 2018 selou a epopeia conservadora que atravessou o Brasil nas últimas décadas. Diante do conservadorismo consolidado, figuras públicas femininas – que antes já foram consideradas pouco expressivas ou "identitárias" dentro do espectro da chamada direita cristã – passaram a configurar-se como articuladoras do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara Federal. O artigo apresenta as trajetórias políticas de duas deputadas católicas e antifeministas, Carla Zambelli e Chris Tonietto. O objetivo é escrutinar como os catolicismos conservadores vocalizados por mulheres são um dos ingredientes fundamentais do reacionarismo em curso. A hipótese é a de que a atuação destas parlamentares católicas durante a 56ª legislatura (2018-2022) deflagra um novo contorno no conservadorismo religioso no legislativo. Mulheres líderes/ativistas cristãs passam a ocupar espaços de relevância pública usufruindo das gramáticas antigênero, antitrans e antiaborto. Sub judice da plástica e palatável narrativa da “ideologia de gênero”, disputam a maternidade política com caráter estritamente antifeminista e confrontam, em certa medida, o ambiente político majoritariamente masculino na Câmara Federal. Também se reposicionam nas disputas com lideranças evangélicas e/ou feministas na arena pública e integram contramovimentos que reivindicam pautas morais e punitivistas, como a defesa da educação domiciliar e do agronegócio – em contraposição ao Sínodo da Amazônia –, e atuam com forte aliança no legislativo com grupos católicos ultraconservadores.