Você sabia que durante os anos de 1930, 40 e 50 do século XX houve uma produção de filmes melodramáticos na Argentina, no México e no Brasil e que esses filmes levavam milhares de pessoas ao cinema? O livro “Melodrama: o cinema de lágrimas da América Latina” é uma excelente fonte para quem quiser saber mais sobre esse fenômeno da cultura de massa latino-americana. Escrito por Sílvia Oroz e publicado pela editora da Funarte em 1999, a obra não só analisa como esse tipo de cinema incorporou as matrizes melodramáticas e folhetinescas ao contexto latino-americano, mas também apresenta uma vasta seleção de imagens de filmes, vários deles produzidos no Brasil pelas extintas companhias de cinema Maristela e Vera Cruz.
A autora Silvia Oroz, licenciada em Cinematografia pela Universidade Nacional de La Plata (UNLP – Argentina) e Mestra em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), é especialista em cinema latino-americano. Foi curadora de pesquisa e documentação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna – MAM, do Rio de Janeiro. Também co-roteirizou com Nelson Pereira dos Santos “Cinema de Lágrimas”, filme comemorativo dos 100 anos de cinema – uma produção do British Filme Institute que é uma adaptação deste livro editado pela Funarte.
Só o que foi dito acima já vale um confere, né? Mas a pesquisa de Silvia Oroz é também fascinante porque, a partir dos filmes analisados, ela acaba por visitar as origens do melodrama – termo que nasceu na Itália no século XVII para designar um drama inteiramente cantado e que reapareceu na França no século seguinte associado, inicialmente, a peças cujas principais características eram a utilização da música como apoio para os efeitos dramáticos, além de certa desobediência aos critérios clássicos que regiam o teatro da época.
Só por volta de 1795, a palavra passou a designar o gênero teatral cujos aspectos fundamentais podem ser identificados, ainda hoje, em desdobramentos nas extintas radionovelas e fotonovelas, na literatura, no cinema, nas telenovelas, nos doramas e nos podcasts. Sim! O melodrama continua mais vivo do que nunca. Explícito, disfarçado, parodiado ou revisitado de forma crítica. Mas vivo. Atualizado pelos aspectos da contemporaneidade e adaptado às diferentes culturas ao redor do mundo. Por isso, o livro de Sílvia Oroz é um instrumento valioso para entender como essa matriz cultural européia desliza ainda hoje por diferentes suportes e continua sendo apropriada antropofagicamente por diversos povos.
Tem no Centro de Documentação da Funarte (Cedoc) para empréstimo. Corre lá!
#ficaadica
Referência: Classificação: 791.43098 Notação: ORO MEL OROZ, Silvia. Melodrama: cinema de lagrimas da América Latina. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1999. 238 p. : il. Inclui bibliografia ao final de cada capítulo e índices. ISBN 858578170X.
Cláudio Felicio
Doutor em Letras e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Cláudio Felicio é roteirista formado pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro com vasta experiência no mercado audiovisual. É servidor da Funarte desde 2006 e atualmente está lotado no Cedoc, trabalhando na difusão do acervo. Na instituição, atuou como roteirista do Estúdio F, programa de rádio sobre compositores e intérpretes brasileiros. Também escreveu o roteiro e foi o responsável pela pesquisa de imagens do curta-documentário “Dulcina Atriz e Teatro”, entre outros trabalhos. É ainda Especialista em Figurino e Carnaval pela Universidade Veiga de Almeida e graduando em Cenografia e Indumentária na Unirio