• A visita da velha senhora

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“Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
E, se você fizer o mal,
Com o mal mais tarde você vai ter de viver”
(Boomerang blues, na voz de Renato Russo)

A intertextualidade nos leva por caminhos verdadeiramente curiosos e surpreendentes. Vocês poderiam imaginar, por exemplo, que o romance “Tieta do Agreste”, lançado por Jorge Amado em 1977, e a novela “O outro lado do paraíso”, escrita por Walcyr Carrasco em 2017, se cruzam em algum ponto? Pois se cruzam, meus caros leitores. Ambas as obras dialogam de alguma forma com a peça “A visita da velha senhora”. Na telenovela, a referência é explícita a tal ponto que a protagonista foi batizada de Clara, o mesmo nome da vingadora da peça escrita em 1956 pelo suíço Friedrich Dürrenmatt.

A Clara original nasceu em Gullen. Aos dezessete anos apaixonou-se perdidamente por Alfred Schill, um jovem ambicioso de quem engravidou. Alfred e todos os cidadãos de bem da cidade, porém, envolvem-na num processo humilhante, ao fim do qual, ela acaba sendo expulsa do município. Torna-se prostituta e, depois, esposa de um milionário. Por isso, em determinado momento da peça, ela diz: – O mundo fez de mim uma mulher da vida e eu quero fazer dele um bordel.

O que traz Clara Zahanassian de volta a cidade de Gullen não é sua vontade de rever sua terra natal, mas sim a firme deliberação de vingar-se da injustiça de que foi vítima na juventude. Mas a execução do seu plano começa antes desse retorno. Ao se tornar milionária, Clara compra e fecha a fábrica que movimentava economicamente o município, deixando a localidade num estado de penúria.

Clara então retorna a Gullen e oferece ajuda. Mas com um alto preço: um bilhão à miserável cidade em troca da cabeça de Alfred Schill. A população do município é abalada pela proposta.  Será que o dinheiro fala mais alto e Clara consegue se vingar? Não darei spoilers.

Quem quiser saber o desfecho, recomendo uma visita ao velho senhor Cedoc onde se encontra um exemplar da peça, editado pela livraria e editora Agir em 1963 para a Coleção Teatro Moderno. A capa é de Milton Ribeiro. A introdução foi escrita por Mário da Silva. Ele também assina a tradução que, inclusive, foi a utilizada na representação da peça em 1952 com a atriz Cacilda Becker no papel da protagonista e com o ator Sérgio Cardoso no papel de Schill. No livro, há fotos da montagem, cuja direção foi de Walmor Chagas e os cenários de Jean Gilon.

Tem no Centro de Documentação da Funarte (Cedoc) para empréstimo. Corre lá!

 #ficaadica

Referência:

Classificação: LL
Notação: 468

DÜRRENMATT, Friedrich. A visita da velha senhora. Colaboração de Mário da Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1963. 198 p. : il. (Teatro moderno, 18).

Cláudio Felicio

Doutor em Letras e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Cláudio Felicio é roteirista formado pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro com vasta experiência no mercado audiovisual. É servidor da Funarte desde 2006 e atualmente está lotado no Cedoc, trabalhando na difusão do acervo. Na instituição, atuou como roteirista do Estúdio F, programa de rádio sobre compositores e intérpretes brasileiros. Também escreveu o roteiro e foi o responsável pela pesquisa de imagens do curta-documentário “Dulcina  Atriz e Teatro”, entre outros trabalhos. É ainda Especialista em Figurino e Carnaval pela Universidade Veiga de Almeida e graduando em Cenografia e Indumentária na Unirio

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