Descrição
Although ahead of his time in many ways, Rio de Janeiro writer Lima Barreto (1881 – 1922) is still reduced to the label of a “pre-modernist.” In this paper, I analyze the short story “Dentes negros e cabelos azuis,” (1918) to demonstrate Lima Barreto’s fundamental contribution to a type of literature contrary to the uncritical celebration of “progress” during the First Republic (1889 – 1930). To this end, I discuss the conflict between Lima Barreto and the modernists of São Paulo in 1922. Then, I turn to the space of the outskirts, the allegory of black teeth and blue hair, and the interpellation between the characters as a possibility of denunciation of Brazilian racism. The central thesis of this paper is that the story uses the antithetic relation between home and street to develop a series of other contrasts, in a narrative mise en abyme sustained by oppositions that reflect the very contradiction of Brazilian modernity. I draw on Black anticolonial and decolonial works, such as the scene of interpellation narrated by Frantz Fanon in White Skin, Black Masks, and the theoretical formulations of Achille Mbembe and Grada Kilomba.||Embora à frente de seu tempo em vários sentidos, o escritor carioca Lima Barreto (1881 – 1922) é ainda hoje reduzido à categoria de “pré-modernista”. Pensando nisso, analiso o conto “Dentes negros e cabelos azuis”, publicado originalmente em 1918, com o objetivo de demonstrar a contribuição fundamental de Lima Barreto para uma literatura contrária à celebração acrítica do “progresso” durante a Primeira República (1889 – 1930). Para tanto, ofereço uma breve reflexão sobre o conflito de 1922 entre Lima Barreto e os modernistas de São Paulo. Em seguida, dedico-me ao espaço do subúrbio, à alegoria dos dentes negros e dos cabelos azuis e à interpelação entre os personagens do conto como uma possibilidade de denúncia ao racismo brasileiro. A tese central deste artigo é a de que o conto faz uso da relação antitética entre casa e rua para desenvolver uma série de outras antíteses, numa narrativa “em abismo” sustentada por oposições que refletem a própria contradição da modernidade brasileira. O horizonte teórico deste trabalho parte da tradição negra de caráter anticolonial e decolonial, como a cena de interpelação narrada por Frantz Fanon em Pele negra, máscaras brancas e as formulações teóricas de Achille Mbembe e Grada Kilomba.