Descrição
Tradicionalmente relacionados somente à perpetuação de herdeiros, a sexualidade e o corpo feminino não foram validados enquanto objetos de estudo pela historiografia do século XIX até meados do XX. Contudo, é notório como ambos estiveram presentes nas produções históricas da Antiguidade Clássica, dos vestígios materiais aos escritos de teatrólogos, filósofos e médicos, como Hipócrates e Aristófanes. Os conceitos de corpo e de sexualidade cristalizaram-se, na historiografia, como um esforço dos autores antigos, sobretudo de Aristóteles, em justificar a suposta inferioridade das mulheres gregas, que estaria baseada em uma composição fisiológica mais fraca. Tal visão acabou por restringir as possibilidades interpretativas oferecidas por outras naturezas documentais do período clássico, como a hipocrática e a aristofânica. Esse artigo busca refletir sobre a correlação histórica das obras de Aristófanes e Hipócrates, com ênfase nas atividades sexuais femininas e nas construções de gênero em Atenas.