Descrição
Genealogias de um crime insere-se na melhor tradição do cinema de ruptura com a linguagem narrativa própria do modelo hollywoodiano. Depois de quase trinta anos de trabalho e dezenas de filmes realizados, o franco-chileno Raoul Ruiz consegue manterse fiel ao seu propósito de criar um cinema formalmente ousado, apesar da adversidade crescente em relação a este tipo de trabalho, num momento em que só as preocupações com o mercado parecem fazer sentido. Nesse filme, ele parte de um crime para sondar o fascínio que o comportamento delinqüente exerce sobre os homens, ressaltando o envolvimento ambíguo de duas importantes instituições da vida moderna, a psicanálise e o direito, com tal comportamento, bem como suas causas e efeitos. O “crime central”, a que alude o título, é o assassinato de uma psicanalista. O ato teria sido supostamente cometido pelo sobrinho que ela recebeu ainda criança em sua casa, com o intuito de fazer, inicialmente, um minucioso estudo de suas atitudes, comportamentos e reações, para, posteriormente, realizar um trabalho terapêutico com a finalidade de evitar as manifestações de fortes impulsos criminais, percebidos já em seus primeiros anos de vida. (Continua...)