Descrição
A constituição perspéctica do espaço pictórico é um dos elementos-chave dos estudos historiográficos dedicados ao maneirismo enquanto movimento artístico, ainda que persista uma lacuna de trabalhos específicos sobre a peculiaridade da articulação espacial destas obras. O presente artigo busca contribuir para solucionar esta carência, sustentando-se tanto em uma diversidade de diferentes fontes, incluindo tanto estudos clássicos sobre a Maniera, quanto contribuições recentes, provenientes de campos diversos, incluindo a teologia, a filosofia e a historiografia da arte. Argumenta-se que o tratamento perspéctico de um grupo de pinturas maneiristas protagonizando Cristo, executadas por artistas florentinos na primeira metade do século XVI, vincula-se a uma tradição teórica e artística que fundamentou a arte icônica bizantina, ambos compartilhando de um mesmo repertório filosófico, religioso e artístico, enraizado no neoplatonismo e no misticismo cristão, influências ativas na cultura europeia entre o final do Quattrocento e o século seguinte. Nestes termos, intenciona-se fornecer uma contribuição para o estudo da arte renascentista, de modo geral, e do movimento maneirista enquanto fenômeno estético, em particular, bem como sugerir novas possibilidades analíticas, teóricas e metodológicas para o estudo iconológico das obras de arte.