Descrição
Lendo Sonetos dos amores mortos, de Rita Moutinho, ficamos felizes de reconhecer, em uma companheira de ofício e de espécie, tanta competência lírica. Os homens foram sempre os consagrados sonetistas. Sim, “monógrafo este livro louva ou chora” amores mortos. Mas a voz lírica não é monocórdia e fria, intertextualizando, por oposição, outro grande sonetista. Consegue tematizar, às vezes, até sentimentos antagônicos que são capazes de conviver no exercício de amar, lembrando Cantares, de Hilda Hilst. E essa voz assume gradações que vão do sublime à própria ironia, mas vestida sempre com a organza da sutileza. E, também, com a linguagem própria de cada situação. Até mesmo com a linguagem desse tempo de interfaces, de nosso mundo virtual. Nem mesmo a forma fixa do soneto aprisionou a liberdade da criadora literária. Depois das perdas ou do luto, experimenta o rito de passagem – deixa seu tempo flutuar “gêmeo ao das vitórias-régias”, numa bela metáfora. E, ao final, “tem início a romaria ao sacrário de um amor vivo”. E também, ao final, pela extraordinária capacidade da artista em transubstanciar a experiência em pura poesia, veremos os amores mortos redivivos. (Continua...)