Descrição
O presente artigo pretende problematizar a cada vez mais frequente exibição pública do corpo nu, em meio a um complexo terreno de lutas e disputas. Tal exibição gera alvoroço em suas diversas manifestações e desperta o interesse alheio e a audiência midiática. Esse cenário, por sua vez, é efeito e instrumento de fenômenos atuais como o sexting – divulgação não autorizada de vídeos, fotos e demais conteúdos íntimos na internet – e o revenge porn – vazamento de tais registros motivado por desejo de vingança de parceiros ou ex-companheiros. Esses materiais, feitos geralmente com celulares e com o consentimento dos participantes, em vez de se restringirem ao uso privado dos envolvidos, são amplamente divulgados como forma de constranger e punir as vítimas. Tendo em vista certa trivialidade da nudez nos dias atuais e a reivindicação de sua politização, cabe perguntar algo que parece soar paradoxal: por que a divulgação de imagens íntimas nestas circunstâncias é tratada como um tabu, com forte repercussão negativa, exposta a atos de vingança e humilhação pública? O que está em jogo nestas práticas e por que elas são cada vez mais recorrentes? O que elas sinalizam acerca das novas sexualidades emergentes e do modo como temos nos relacionado “intimamente”? Visando responder à tais questões, desenvolveremos uma discussão que nos possibilite compreender os sentidos das atuais práticas de exibição da intimidade e de humilhação pública, amparadas pelos dispositivos digitais.