Descrição
Cristãos pentecostais em Gana exibem intensidades e estilos heterogêneos de devoção. Em contraste, representações acadêmicas têm destacado quase que exclusivamente suas versões públicas e intercessórias, eventualmente qualificando-as como “mágicas" e recorrendo a teorias da privação para explicar o vertiginoso crescimento desta espiritualidade nas últimas décadas. Neste artigo, examino as rotinas devocionais cultivadas por cristãos "convictos", reconhecidos por seus pares como sujeitos “orantes” [prayerful/mpaebɔni]. Inspirado por autores que sublinham os componentes pedagógicos das tradições religiosas, como Mauss e Asad, investigo etnograficamente a ética embutida na oração pentecostal em Gana. Argumento que, sob esta ótica, a oração carismática não é um objeto discernível de investigação, mas um campo contínuo de problematização ética impulsionado por duas modalidades humanas de dispêndio físico-moral: o hábito e a antecipação. Concluo enfatizando como a atenção aos "bens internos" da oração pentecostal nos permite integrar o problema da vulnerabilidade e do sofrimento nos projetos religiosos, ao invés de reduzi-lo a forças causais externas.