Descrição
A complexa leitura que faz Derrida do texto de Joyce pode bem ser um dos melhores exemplos da tentativa que faz o pensador de, no encontro com textos literários, respeitar o outro absoluto. Recusando-se a acrescentar à fortuna crítica do texto joyceano mais uma interpretação, Derrida apresenta ao leitor o que parece ser, à primeira vista, uma teia de digressões, relatos de experiências pessoais, detalhes sobre o processo de preparação da conferência. Subjacente a essa textualidade errante que aparenta não chegar a parte alguma, contudo, é possível entrever o tratamento de uma temática recorrente na obra de Derrida, particularmente a partir da década de noventa: a questão do relacionamento entre a estrutura e o acaso e entre o programado e o improgramável, entre o sentido presente e o resto suplementar. Apontando sempre para o resto e o improgramável, Derrida contrapõe ao texto Joyceano uma contra-assinatura singular que, repetindo fragmentos do Ulysses, contamina essa repetição com uma singularidade diferencial que pode ser pensada em termos de um gesto de respeito ao segredo absoluto que, na obra literária, nunca se revela.