Descrição
Neste artigo, pretendemos encontrar os pontos de interseção entre a comunicação e os direitos humanos, incorporando perspectivas dos estudos de som e cultura auditiva. Através de um estudo de suas paisagens sonoras, exploramos as experiências cotidianas de uma favela do Rio de Janeiro, a Maré, dedicando atenção a um sentido que é, muitas vezes, negligenciado: a audição. Para isso, adotamos uma abordagem etnográfica, com a realização de passeios sonoros e observações participantes. Ao escutar as paisagens sonoras da Maré, descobrimos que a rua se configura como o espaço mais adequado para trocas reais e simbólicas, permitindo que os moradores aprofundem seus sentimentos de pertencimento a essa comunidade. Talvez por serem tão representativos, os sons da Maré e, dentre eles, o funk vêm sofrendo tentativas sistemáticas de silenciamento. Elas demonstram o caráter autoritário de algumas intervenções que vem sendo realizadas nas favelas, como a militarização e a pacificação. Mesmo com essa repressão sonora, as ruas da Maré continuam a ser ocupadas com suas festas e sons. A comunidade funkeira continua ecoando suas vozes e ritmos nas paisagens sonoras, resistindo em seu espaço comum.