Descrição
Nesse estudo, veremos que a narrativa mítica constitui-se como um dos veios psicanalíticos e nervosos mais profundos e representativos da cultura portuguesa, inclusive de sua literatura. Mas, desde Herculano, Garret e a Geração de 70 difundiu-se de fato um diagnóstico crítico e psiquiátrico que revela um Portugal doente, de vida coletiva embebida num imaginário épico alucinante. O que nos importa salientar aqui é que os mesmos diagnósticos imaginários de outrora foram chamados a atenção na avaliação da vida lusitana ao longo dos séculos XX e início do XXI, atendendo a diferentes anseios sociopolíticos, é claro. Nessa perspectiva, abordaremos os estudos de Eduardo Lourenço e Miguel Real que, além de constatarem a presença de “um irrealismo cultural existente entre o discurso oficial do Estado, dominante na imprensa escrita” (REAL, 2012), reconhecem a tradução desse aspecto no discurso literário, marca presente em muitos romances portugueses que consiste na representação alegórica de um discurso alucinatório, sugerindo uma reposição complexa dos cenários da história oficial de Portugal.