Descrição
Este artigo investiga os primeiros momentos da experiência da Lia Rodrigues Companhia de Danças no Complexo de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, após a chegada o grupo para residência, em 2004. A análise é feita a partir do primeiro espetáculo criado na Maré, Encarnado, de 2005, levando em conta o conceito de "coreopolítica", cunhado por André Lepecki (2012), e a ideia de "política do chão", de Paul Carter (1996). É apresentado o processo de criação do trabalho e sua inspiração no ensaio Diante da dor dos outros, de Susan Sontag (2003), usado para refletir sobre o impacto da chegada ao chão da Maré, seus afetos, sentidos e fantasmas. Com base nas reflexões de Eliana Sousa Silva (2012), o estudo problematiza também a questão da violência na Maré, para mostrar, em seguida, que Encarnado é um mergulho no chão repleto de fissuras e paradoxos da favela, um jeito de remexer um Rio de Janeiro que reflete mundos não idealizados, um manifesto contra o alisamento colonialista do chão no Ocidente e a sempre aguardada “beleza” da dança.