Descrição
O presente artigo analisa e contextualiza ocorrências do phármakon que se encontram na poesia grega antiga. Para Górgias Leontino a poesia representada no teatro trágico era o protótipo do discurso potente, capaz de suscitar emoções por intermédio da identificação com os corpos e os discursos do outro. A analogia gorgiana do lógos com o phármakon se apóia nos caracteres da personagem homérica, Helena. Helena possui a habilidade de fabricar e de aplicar o phármakon que age nos espíritos e na memória. Especialmente na Odisseia, observar-se-á Helena envolvida em ações que a caracterizam como personagem ideal para protagonizar a analogia construída por Górgias, para quem o lógos significa linguagem ou discurso, tal qual uma droga que atua nos espíritos. Helena faz parte de uma classe quase arquetípica de personagens míticas femininas que dominavam tanto a arte do encantamento e da fabricação de poções com plantas e ervas que agiam nas emoções e na memória humana, como também daquelas personagens que sabiam usar a própria voz, com a finalidade da sedução ou da indução a uma ação sobre os homens.