Descrição
A composição e a interpretação musical adquiriram ao longo do século xx perspectivas inéditas com fim da linguagem comum, o abandono da tonalidade, o advento da música eletroacústica, acusmática, mista e aleatória, e também com novas propostas de escuta. Além das inovações artísticas do período, os compositores tornaram-se intérpretes de suas próprias obras em suporte fixo ou mistas. Propomos que a interpretação da música mista (que combina instrumentos acústicos tradicionais a recursos eletrônicos) possa ser participativa, através de um processo dinâmico e criativo, fruto de múltiplas trocas entre instrumentistas e compositores. Mais do que ser fiel à obra acabada, o instrumentista contribui à sua construção e ao aparecimento das primeiras versões. A interpretação participativa emerge dessa troca de competências realizada a longo prazo. Podemos considerar a interpretação musical participativa como o resultado de um conjunto de interações entre instrumentista e compositor, em todas as etapas do processo criativo, como uma múltipla mediação, nos dois sentidos e com diversos níveis de participação. Assim é instituída uma dinâmica de trabalho que não existia anteriormente, e que se sedimenta em versões (ou estados) das obras musicais mistas, podendo abrir novas perspectivas operacionais entre sons acústicos e ferramentas eletrônicas.