Descrição
A discussão ora proposta visa observar e analisar, como causa e consequência estruturais que permitem uma revisão da narrativa histórica por meio da ficção, os diálogos entre narrativa e drama que são estabelecidos em Memorial do convento. Pretende-se, assim, discutir como José Saramago realiza uma provocação à historiografia e uma tentativa de livrar do esquecimento os homens simples de Portugal, verdadeiros responsáveis pela construção do monumento histórico. Para isso, serão observadas, principalmente, a associação peculiar entre o narrador e as suas personagens, beneficiada pelo próprio estilo do autor, que propõe uma mimetização da linguagem oral pela escrita, e as relações entre o narrador e a matéria narrativa, quando aquele assume uma postura pouco contemplativa diante do relato, promovendo associações invulgares entre o tempo e o espaço e entre a narrativa e o drama. Com uma estrutura cambiante, Memorial do convento promove, por meio da presentificação dos fatos, uma revisão crítica da narrativa histórica, estando esta, a priori e ironicamente, destituída da sua condição de oficial e, logo, passível a interpretações.