Descrição
Analisaremos neste artigo as novas características adquiridas pelo ativismo católico antiaborto e antigênero no Brasil nos últimos cinco anos, acompanhado pela formação e atuação de grupos católicos que se reconhecem como conservadores e tradicionalistas. O ponto de partida da investigação foi o exame de algumas cenas nos quais observamos esse ativismo em operação em manifestações públicas e campanhas antiaborto e antigênero. Iniciamos a observação destas manifestações no ano de 2018, e prosseguimos até 2022, inclusive durante o período pandêmico, nos quais nos detivemos na análise das publicações online. Como resultado, identificamos duas características deste novo ativismo, que se diferenciam do ativismo anterior: a incorporação de elementos simbólicos e rituais da Igreja Católica no enfretamento público ao posicionamento pela descriminalização do aborto e dos direitos sexuais e reprodutivos e a adoção de atitudes de combate e enfrentamento aos grupos antagonistas, representados por movimentos da sociedade civil, especialmente aqueles defensores dos direitos relacionados ao gênero e à reprodução da vida. Esse ativismo católico mobiliza referenciais de um modelo de Igreja anteriores ao Concílio Vaticano II, contrapondo-se aos ideais de liberdade e pluralidade religiosa e, de maneira mais ampla, ao secularismo. Trata-se de um ativismo ostensivamente católico e radicalmente antipluralidade.