Descrição
O presente artigo busca discutir a relação entre a língua portuguesa e a formação de uma elite política na República Democrática de Timor-Leste (RDTL), a dos presidentes da república do período democrático. Trata-se de verificar como a língua portuguesa contribui para a constituição dessa elite após a guerrilha de resistência contra a Indonésia, bem como analisar possíveis contribuições que as relações estabelecidas pela língua (também relações de poder) trazem para a produção de um discurso favorável à presença da língua portuguesa no país. Para tanto, são analisadas as biografias oficiais três presidentes timorenses, a partir das quais um debate interdisciplinar é desenvolvido. De um lado, estudiosos da teoria das elites e da sociologia do poder, tais como Bourdieu (1983, 1989, 2015), Saint-Martin (2008), Coradini (2001, 2003), Seidl (2013), Codato (2008), Anjos (2006) e Dallabrida (2001) auxiliam o entendimento quanto à formação, à conversão e à manutenção das elites; e, de outro lado, os estudos das Políticas Linguísticas por Makoni e Meinhof (2006), Mariani (2004) , Shohami (2006) e Rajagopalan (2003), permitem um entendimento pontual sobre discursos produzidos sobre a língua. O que se percebe é que a língua portuguesa, tal como aconteceu em outras ex-colônias lusitanas, foi acessada por uma pequena elite local de timorenses que possuíam contato direto com a metrópole e depois, dadas as circunstâncias políticas e de guerra que o país asiático vivenciou, a língua foi discursivizada como artefato político, constituindo um projeto nacionalista lusófono que nem sempre corrobora com as dinâmicas linguísticas do cotidiano.