Descrição
Originado no século VIII, o topos da perda da Espanha funcionava como um meio de ofertar sentido à ruptura ocasionada pela chegada de árabes e berberes em 711. No entanto, como um componente essencial de uma memória da reconquista, ele não deveria somente ser lembrado enquanto um fato único e distante, mas como algo constantemente renovado na imaginação dos cristãos peninsulares. Um movimento que se torna evidente não apenas a partir de sua perpetuação na historiografia ibérica, mas também, pelas equiparações estabelecidas entre a derrota dos visigodos e as investidas de Almançor, dos almóadas, almorávidas e merínidas. E é a partir desses entrecruzamentos que procuramos abordar os sentidos das reencenações da chegada das populações árabe-berberes na península, especialmente aquelas presentes na historiografia portuguesa do Trezentos. Nossa hipótese é que, para além de sua constituição narrativa enquanto um topos, a lembrança da derrota do rei Rodrigo naqueles escritos pode ser lida como um evento traumático aos cristãos que se propunham como herdeiros daquelas terras – um trauma constantemente renovado em suas memórias.