Descrição
Embora sempre se tenha dito que as esculturas da Grécia Antiga eram coloridas, foi o entendimento de que elas eram de mármore branco e imaculado que as tornou paradigma para o conceito de arte e beleza clássicas. Por isso, admitir que as estátuas gregas eram revestidas de cores vibrantes é, em certa medida, também descontruir a própria noção de arte grega como modelo de ideal de beleza clássica. Nesse sentido, nossa hipótese é que esta disparidade entre teoria e realidade, no que diz respeito ao entendimento da arte escultórica da Grécia Antiga, pode ser explicada pelo fato da cor ser uma “qualidade de sentimento”, característica da experiência de primeiridade, tal como formulada por Charles S. Peirce. Por isso, para que haja uma real assimilação do que significa, no sentido estético, ser colorida, uma escultura policromada só é de fato absorvida na sua plenitude se a cor for vista, i.e., se for sentida como puro qualisigno. Caso contrário, corre-se o risco de se distanciar do objeto real, a ponto de acarretar distorções que podem invalidar conceitos estilísticos longamente instituídos. Sendo assim, propõe-se investigar a influência do caráter de qualisigno da policromia escultórica no processo cognitivo de análise estilística da arte grega antiga e, consequentemente, para a formulação do conceito de arte e beleza clássicas.