Descrição
In this article we examine the conformation of a discourse of political neutrality, exemption and detachment in Brazilian Spiritism, accommodating it in a conservative way to capitalist society, as well as the production of a leftist Spiritism, minority, that shelters socialist ideas. Although dominant, the conservative disposition coexisted and confronted dissonant discourses of progressive bias, generally discrete and moderate, but sometimes expressed in more engaged and radicalized terms. The terms of the discourse of neutrality and alienation from politics include the loathing of “political passions”, an individualistic and reductionist conception of morality enshrined in a depoliticized formula of “intimate reform” and the sacred/profane dichotomy as a world-reading grid. From the lens of the middle class, ideological selectivity still operates on what is acceptable or not in terms of spiritist discourse on social issues. The production of a spiritist discourse on the left, otherwise, can be understood mainly from the areas of elective affinity or structural correspondence between Christianity and socialism, as well as the origin of spiritism in France in the midst of historical relations between utopian socialists and the spiritualist movement. Finally, we highlight the 1967-1974 Spiritist University Movement, for its clear break with the sacred/profane dichotomy and the consequent political densification of the socialist ideology within the scope of Brazilian spiritism.||Neste artigo é examinada a conformação de um discurso de neutralidade, isenção e alheamento político no espiritismo brasileiro, acomodando-o de modo conservador à sociedade capitalista, bem como a produção de um espiritismo à esquerda, minoritário, que abriga ideários socialistas. Embora seja dominante, a disposição conservadora conviveu e confrontou-se com discursos dissonantes de viés progressista, geralmente discretos e moderados, mas, por vezes, expressos em termos mais engajados e radicalizados. Os termos do discurso de neutralidade e alheamento à política incluem a ojeriza às “paixões políticas”, uma concepção individualista e reducionista de moral consagrada numa fórmula despolitizada de “reforma íntima” e a dicotomia sagrado/profano como grade de leitura de mundo. A partir das lentes da classe média, opera ainda a seletividade ideológica quanto àquilo que é aceitável ou não em termos de discurso espírita sobre questões sociais. Já a produção de um discurso espírita à esquerda pode ser entendida sobretudo a partir das áreas de afinidade eletiva ou correspondência estrutural entre o cristianismo e o socialismo, bem como pela origem do espiritismo na França no bojo das relações históricas entre socialistas utópicos e o movimento espiritualista. Destacamos, por fim, o Movimento Universitário Espírita de 1967-1974, pelo claro rompimento com a dicotomia sagrado/profano e consequente adensamento político do ideário socialista no âmbito do espiritismo brasileiro.
