Descrição
And why poetry in times of indigence? We suggest a twist on the question originally proposed in a verse from “Bread and Wine”, a poem by Hölderlin, and a move from 19th century Germany to the Brazilian public university of 2023. The sense of crisis that has reached unforeseen dimensions since March 2020 is not new, nor is it “just” the result of the pandemic in one of the countries most affected by the coronavirus. In this article, we present assumptions from the research we are currently conducting “Experiencing Poetry: a poetic project for times of indigence”, reflecting on the progressive loss of meaning of the world in recent years, caused by the indigent combination of the Covid-19 pandemic with unemployment, mourning, loneliness and self-absorption and its impacts on working with poetry in the classroom with undergraduate students in Literature. We start from the conception of Poetry inferred from our work with the life/work of Mário Cesariny, in his surrealist and romantic dialog: an affirmation - not necessarily linked to the writing of verses - of a revolted and passionate way of life, raised everyday against everyday life, in order to shed light on an incessant production of images of desire. It will then be possible to return to written production to perceive poems as disruptive and disturbing powers of the imaginative limits established by the rhetoric of permanent crisis and its daily effects. It seems urgent to adopt other didactic strategies for accessing an experience with poetry in a scenario of growing misery and violence, which have a direct impact on the possibilities for the liberating realization of the poetic image.||E por que poesia em tempos de indigência? Sugerimos uma torção na questão originalmente proposta num verso de “Pão e vinho”, poema de Hölderlin, e um deslocamento da Alemanha oitocentista à universidade pública brasileira de 2023. O sentimento de crise que atingiu dimensões imprevistas a partir de março de 2020 não é novo, tampouco resultado apenas da pandemia num dos países mais afetados pelo coronavírus. Neste artigo, apresentamos pressupostos da pesquisa “Experiência de poesia: um projeto poético para tempos de indigência”, refletindo sobre a perda progressiva do sentido do mundo nos últimos anos, provocada pela combinação indigente da pandemia de Covid-19 com desemprego, luto, solidão e ensimesmamento e seus impactos no trabalho com poesia em sala de aula com alunos da graduação em Letras. Partimos da concepção de Poesia depreendida do nosso trabalho com a obravida de Mário Cesariny, em seu diálogo surrealista e romântico: uma afirmação – não necessariamente vinculada à escrita de versos – de um modo de vida revoltado e apaixonado, erguido cotidianamente contra o cotidiano de modo a lançar luz sobre uma produção incessante de imagens do desejo. Será possível, então, operar um retorno à produção escrita para perceber os poemas como potências disruptivas e perturbadoras dos limites imaginativos instaurados pela retórica da crise permanente e seus efeitos cotidianos. Parece-nos urgente a adoção de outras estratégias didáticas para o acesso a uma experiência com a poesia num cenário de crescente miséria e violência, que incidem diretamente sobre as possibilidades de realização libertadora da imagem poética.
