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“A esta altura, Jorge Andrade sistematizou sua vida profissional. Desde Os Ossos do Barão que não parou de escrever, contratado que é da Globo. O que aconteceu foi que, depois de trinta capítulos, a censura disse um não irrevogável a Pedreira das Almas”, relatou a crítica de televisão Helena Silveira na Folha de São Paulo em junho de 1975.  Intitulado Jorge Andrade: Novela foi Opção, esse texto de Helena está presente no volume I de Jorge Andrade 90 anos (re)leituras. Apublicação, lançada em 2012 para celebrar o nascimento do dramaturgo paulista, pode ser consultada na Biblioteca do Centro de Documentação da Funarte, local onde – entre várias coisas sobre Jorge – há um dossiê a respeito da peça que, em vias de ser transformada em folhetim para as massas na década de 1970, deixou os censores de cabelo em pé.

E por que será que isso aconteceu?

Só com um rápido mergulho no dossiê sobre Pedreira das Almas já é possível encontrar uma série de motivos pelos quais a ditadura civil-militar instaurada pelo golpe de 1964 encasquetou com a possibilidade de ver a peça de Jorge transformada em novela de TV. Mas, durante a pesquisa, é bom perder o foco da curiosidade inicial sobre a peça, para assim encontrar outras coisas interessantes sobre ela que, a princípio, podem não responder à pergunta. Só a princípio. 

Um exemplo disso é o programa da montagem que o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) fez de Pedreiras em 1958. Nesse item que integra o dossiê, logo na capa, ilustrada pelo artista plástico Darcy Penteado, há a informação de que a peça de Jorge estava sendo encenada em comemoração ao décimo aniversário da companhia. Na página cinco, Franco Zampari, Diretor-Fundador Superintendente do TBC, escreveu sobre como dez anos de vida de um teatro no velho continente é coisa corriqueira, mas, no Brasil, “representa algo excepcional, pois criou uma formação artística e um orgulho de ser”.

 Além do texto de Zampari, o programa da montagem feita pelo TBC, traz ainda – em meio a anúncios publicitários, fotos do elenco e a reprodução de um requerimento da Câmara Municipal de São Paulo que parabeniza a companhia pelo décimo ano de fundação – textos de Diogo Pacheco, diretor musical do espetáculo, de Antônio Cândido, sociólogo e literato, e do crítico teatral, Décio Almeida Prado.

Em seu breve ensaio sobre a peça de Andrade presente no programa do espetáculo do TBC, Antônio Cândido escreveu que Pedreira das Almas se constrói à roda da utopia de construir um mundo novo: “destas (utopias) perenes que alimentam o homem e compensam a sua dor graças à fabulação redentora”. E eis que, no exercício de se perder num dossiê para encontrar, acha-se uma resposta sobre as razões do incômodo do regime totalitário com o texto de Jorge Andrade. Salve ele!

Cláudio Felicio

Doutor em Letras e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Cláudio Felicio é roteirista formado pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro com vasta experiência no mercado audiovisual. É servidor da Funarte desde 2006 e atualmente está lotado no Cedoc, trabalhando na difusão do acervo. Na instituição, atuou como roteirista do Estúdio F, programa de rádio sobre compositores e intérpretes brasileiros. Também escreveu o roteiro e foi o responsável pela pesquisa de imagens do curta-documentário “Dulcina  Atriz e Teatro”, entre outros trabalhos. É ainda Especialista em Figurino e Carnaval pela Universidade Veiga de Almeida e graduando em Cenografia e Indumentária na Unirio

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