Descrição
Bernat Martorell (1390-1452) e Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) foram expoentes das pinturas gótica e barroca, respectivamente. Produziram, no seio da Cristandade, obras física e simbolicamente intensas, marcadas por tendências naturalistas e por uma peculiar abordagem dos corpos. A proposta desta dissertação é analisar as manifestações e representações estéticas do corpo de São João Batista (c. 32 d. C.), personagem comum à arte de ambos, em três pinturas específicas: 1) o Retábulo de São João Batista, de Martorell (c. 1425-1430); 2) São João Batista no deserto (c. 1604) e 3) A decapitação de São João Batista (1608), de Caravaggio. Para isso, utilizaremos os níveis de interpretação iconográfica propostos por Erwin Panofsky (1892-1968), além das reflexões de Georges Didi-Huberman (1953- ) acerca do anacronismo das imagens, com vistas a enriquecer o debate sobre o corpo na arte. Examinaremos as inúmeras e por vezes contrastantes considerações históricas, filosóficas e artísticas sobre a temática, para compreender o protagonismo do corpo nessas obras e na devoção ao santo. Realizaremos ainda uma incursão nas trajetórias dos dois artistas, com destaque para seus entornos histórico-culturais, suas influências, suas fases profissionais, as tensões vividas e a maneira como tornaram o corpo elemento central em seus processos criativos. Nossa hipótese central reside na percepção de que as concepções medievais sobre o corpo se manifestam nessas pinturas, projetam-se para além de sua temporalidade cronológica e ganham eco nas noções de corpo como campo de batalha e de corpo trágico, elaborações contemporâneas com as quais dialogamos.
Palavras-chave: Bernat Martorell Caravaggio História da Arte São João Batista Corpo.